Entenda o Efeito Bumerangue dos agrotóxicos entre a America do Sul e a União Europeia

Recentemente, a autora de estudos relacionados aos agrotóxicos e professora da Universidade de São Paulo, Larissa Mies Bombardi, acusou a União Europeia – EU de adotar “padrões duplos” sobre o uso e exportação de agrotóxicos, dizendo que as pessoas dos países membros do Mercosul são tratadas como “cidadãos de segunda classe”, dada a exposição admissível a substâncias proibidas na UE.

Ressalta-se que, foi firmado um acordo de livre comércio assinado em 28 de junho de 2019, entre os membros do Mercado Comum do Sul (Mercosul) e da União Europeia (UE), para estabelecimento de práticas de livre comércio entre eles

No que tange os agrotóxicos, o acordo comercial UE-Mercosul, como está atualmente, agravará o “efeito bumerangue” dos venenos proibidos na UE, cujos resíduos reentram no bloco como importação de alimentos, constatou um estudo realizado pelo The Left, grupo de Parlamentaristas Europeus que defende os trabalhadores, o meio ambiente, o feminismo, a paz e os direitos humanos.

A UE exportou 7.000 toneladas de agrotóxicos, proibidos dentro da Europa devido a questões ambientais e sanitárias, para o bloco do Mercosul de países sul-americanos (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) em 2018 e 2019.

Destaca-se que no período 2019-2020, o Brasil aprovou um número recorde de agrotóxicos – incluindo 37 proibidos na UE.

Em 2018, a UE exportou um total de mais de meio bilhão de euros em agrotóxicos para o Mercosul, principalmente para o Brasil (valor de 446 milhões de euros).

As legislações dos estados-membros da União Europeia não proíbem a exportação de agrotóxicos proibidos na UE para países terceiros, permitindo que as empresas lucrem vendendo esses produtos químicos para países não-UE – o que já desencadeou pedidos para proibir a exportação de agrotóxicos para países terceiros. Inclusive, nota-se que está prática confirma o dito, pela professora Larissa Mies Bombardi, que as pessoas dos países membros do Mercosul são tratadas como “cidadãos de segunda classe”.

O estudo ainda revela que 30% dos pesticidas autorizados para as culturas no Brasil (o principal exportador do Mercosul) e 20% dos aprovados no Paraguai são proibidos na UE.

Em 2018, 7% do total de 781 amostras de alimentos dos países do Mercosul coletadas pela Agência Europeia de Normas Alimentares apresentaram resíduos de pesticidas acima dos limites da UE.

O deputado alemão Helmut Scholz, do grupo de esquerda no Parlamento Europeu, disse que os resultados “alarmantes” deste estudo exigem uma revisão das implicações do acordo comercial UE-Mercosul.

“Uma vez em vigor, o acordo UE-Mercosul reforçará as desigualdades entre e dentro dos dois blocos regionais – em vez de permitir um comércio justo e o desenvolvimento sustentável”, disse ele.

“As empresas químicas europeias que despejam pesticidas tóxicos nos países do Mercosul, incluindo muitos proibidos na UE, verão seus lucros e impunidade aumentarem, à medida que exploram regulamentações e leis mais fracas ou ausentes”, acrescentou.

Segundo estudos, na última década, cerca de 56 mil pessoas foram envenenadas por agrotóxicos utilizados no Brasil – uma média de 15 casos por dia. No entanto, estima-se que o número real seja cerca de 50 vezes maior, uma vez que a maioria das intoxicações são subnoticiadas.

Por: ELENA SÁNCHEZ NICOLÁS, Portal EUOBERVER, 11/05/2021

Editado por: Tiago Silveira, FBCA, 15/05/2021