MPF investiga contaminação por agrotóxicos no Rio Araguaia; pesticidas causam câncer e defeitos congênitos
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Redação: Arthur Santos da Silva
Ministério Público Federal (MPF) abriu inquérito para apurar notícia de que os níveis de contaminação das águas do Rio Araguaia, por agrotóxicos, estariam acima dos aceitos pela União Europeia como seguros para o consumo humano. Informação consta no Diário do órgão que circula nesta terça-feira (2).
Segundo o MPF, a água do Rio Araguaia serve como fonte primária da abastecimento à
população humana em diversos municípios. Cinco dos oito pesticidas registrados foram
associados a doenças crônicas como câncer, defeitos congênitos e distúrbios endócrinos.
Segundo o MPF, informação foi extraída do estudo publicado na revista Environmental
Advances, o qual mostra que “as porções média e alta do Rio Araguaia têm níveis de atrazina,
carbendazim, cianazina, imidacloprida, 2,4-D, clomazone, clorpirifós etil e imazalil acima dos
aceitos na União Europeia”.
Conforme o órgão ministerial, o estudo foi realizado a partir de amostras coletadas entre
novembro de 2018 e março de 2019, em oito afluentes nos trechos médio e alto da bacia do Rio
Araguaia, sendo: Rio Claro, Rio Caiapó, Rio Garças, Rio Diamantino, Rio, Rio Perdizes, Rio do
Peixe e Rio Araguainha, além do Rio Araguaia na parte alta da bacia, acima da confluência com
o Rio Araguainha.
Os herbicidas foram os principais agrotóxicos encontrados nas amostras, seguidos pelos
inseticidas e fungicidas. Conforme aponta o estudo, a presença de pesticidas leva a uma
diminuição na abundância e diversidade da comunidade biológica do solo, resultando em
impactos negativos duradouros sobre espécies não-alvo nas comunidades do solo, e, nos
ecossistemas aquáticos, os pesticidas têm sido associados à redução da abundância de
fitoplâncton e zooplâncton, bem como à diminuição da produtividade primária.
O estudo também revelou a escassez de informações sobre as contaminação por pesticidas
em ecossistemas de água doce, sendo que, para a bacia do Rio Araguaia, foi identificado
apenas um estudo de 2020 para a parte média da bacia, que registrou a presença de seis
agrotóxicos (clomazone, fluazifop-p-butil, flutolanil, metsulfuron-metil, propanil e
imidaclopride) na sub-bacia do Rio Formoso, Tocantins.
Dentre os agrotóxicos, destacou-se a atrazina e o clomazone, por terem sido registrados em
todas as sub-bacias estudadas. Como aponta o estudo, a atrazina é um dos herbicidas mais
utilizados no mundo e usado principalmente para controlar plantas de folha larga em culturas
de cana-de-açúcar e milho, sendo reconhecida como um desregulador endócrino, responsável
pela feminização e castração de anfíbios e outras classes de vertebrados, bem como pela
inibição do crescimento ovariano, feminização, anomalias ontogenéticas de desenvolvimento e
redução da produção de descendentes em crustáceos.
O comazone é outro herbicida amplamente utilizado para controlar plantas indesejadas no cultivo, tendo efeitos adversos relatados para espécies terrestres não-alvo e organismos aquáticos, incluindo insetos aquáticos, peixes e macrófitas aquáticas.
Dentre os problemas para a saúde humana apontados no estudo estão: desregulador endócrino, irritante do trato respiratório, irritante da pele, irritante dos olhos (atrazina) e efeitos de reprodução/desenvolvimento (clomazone).